sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Parece que tenho de te matar

Dizem que não conseguirei amar ninguém enquanto te amar a ti. Que não podes continuar vivendo no meu coração. Mas como matamos alguém que vive dentro de nós?

Dizem que serás sempre presente no meu pensamento enquanto eu consentir... Que ocupas 150% do meu coração e isso não é saudável.

Que direito tens, C. de continuar a ocupar esse espaço? Que direito te deram de me dilacerar física e emocionalmente e mesmo assim eu não te conseguir expulsar da minh'alma? O direito que sei que to dei, sem te dares ao trabalho de o conquistar sequer - o direito de possuíres o meu coração, a minha lealdade, a minha fidelidade? Esse direito já não o deverias ter, C.!

Mas tens, pois é evidente que sim. Diz a terapeuta que é por essa razão que não consigo evoluir emocionalmente. Diz ela e digo-o eu porque o sinto - e sinto-o no coração. Posso negar o que quiser mas o que o coração diz não se nega. Oculta-se como o faço tão bem todos os dias.

Diz ainda a terapeuta que tenho de te matar na minha cabeça. Que tenho de imaginar que morreste e despedir-me de ti. Que o calor do teu beijo, os teus braços à minha volta, a tua cabeça encostada ao meu peito após fazermos amor, o teu cheiro, a forma pragmática com que encaravas a simplicidade e a forma simplista com que resolvias problemas desapareceu.

Que moral temos para exigir a uma mãe que mate um filho? Que moral temos para exigir a alguém que mate a quem ama? Com que moral, C., levaste tudo de mim, tudo o que quiseste levar porque te permiti levar tudo? Com que moral partiste para os braços de outro e deixaste um buraco negro no meu peito? E com que moral não tenho eu forças para te esquecer? Com que moral, repito: tenho de te matar se ainda te amo?

Foi tão bom, C. Foi tão bom que pareceu mágico. Que durante o tempo que passámos juntos não só ocupaste a totalidade do meu coração como o reivindicaste - para sempre aparentemente.
Nunca se pode dizer para sempre pois não morres em vida. Morres em espírito dentro de mim.
Morrerás aos poucos pois sou um cobarde. Na verdade não tenho coragem de te matar "de golpe". Sim, sou cobarde. Sim, admito que o que sinto foi forte - demasiado - e não se elimina com meia dúzia de palavras.

Palavras te eliminarão - as dos meus amigos, da minha mãe que tão boa conselheira é e palavras de alguém com força suficiente para arrebatar o meu coração. Essa pessoa surgirá um dia, tenho a certeza. Esteja eu disponível para a receber...

Gestos te eliminarão - os meus gestos, a minha luta diária em superar-me. Talvez um dia eu recupere os gestos de romantismo que me definiam. Talvez esses gestos não tenham desaparecido de mim e um dia uma mulher seja merecedora deles. E eu os volte a fazer com o mesmo calor no coração com que os fiz para ti.

Então, e porque tenho que o fazer, despeço-me aqui de ti. Simular que morreu aquela que dava vida à minha vida é a maior crueldade que se pode pedir a alguém. Mas se é necessário, com lágrimas nos olhos o faço.

Até quando Deus queira, C.

Solteiro.



C... não falamos há um ano. Esta é a minha banda sonora desde Agosto do ano passado. Não é a "nossa" música. A "nossa" música era especial.
Esta é uma música muito minha. Sabes melhor que ninguém porquê.


3 comentários:

  1. Texto tão, mas tão bom!
    Palavras sentidas que me emocionaram porque também sei o que é querer apagar alguém, pois o permanecer desse alguém prolonga o sofrimento.
    Permiti que ele voltasse e me magoasse novamente.

    Parabéns pelo blog!
    Li praticamente todos os posts e gostei da forma sentida e honesta como descreveste esses momentos mais difíceis por que passaste, mas também sorri com o teu bom humor.

    Que o futuro te permita ser muito feliz!

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    1. :) Obrigado! Um dia de cada vez, sorrindo com as peripécias e sofrendo com as dores. É esta a vida que temos os que somos honestos.

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    2. Que os dias bons, de sorrisos, sejam cada vez mais do que os outros!

      Pois que venham então mais peripécias :)
      Achei piada ao post da ida à MS com a tua irmã, o episódio da varanda, e ainda a Tânia e a Sonja (ambas assustadoras ;P).

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